quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

17 de Fevereiro de 2010

Queridos amigos do Silvestre

A campa do Silvestre foi lajeada. Está como ele era: simples. Tenho a certeza que ele não quereria nada complicado …

O numero da campa é 3408 no Talhão 9.

Compreendo que queiram ir visitar a campa dele, mas não chorem por ele, porque ele está noutra viagem, noutro caminho. A essência dele juntou-se com a Fonte de Vida, que é Deus, pelo menos assim o entendo, porque não acredito que a morte seja o fim, mas sim um novo principio …

Eu sei que amam o Silvestre mas não se esqueçam de dar aos outros, o mesmo que darem ao Silvestre, especialmente àqueles que não têm a sorte de ter amigos como ele tinha/tem. Sinto-me privilegiada por ter sido a mãe dum menino que afinal era tão rico, porque tinha tantos amigos que gostavam dele …

Mãe do Silvestre

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

28 de Janeiro de 2010

Hoje faz um ano que o nosso Gatinho partiu para criar asas.
Fui visitar Alcoitão no dia 26. Alcoitão está na mesma, Alcoitão está diferente. O Piso 4, onde o Silvestre estava e onde estava a funcionar o Serviço 1º dto, está fechado. O 1º Dto voltou para o 1º Piso, remodelado, fresco, bonito, diferente … e o Silvestre não estava lá. O tempo avançou, os utentes são outros, duas enfermeiras reformaram-se pouco depois do Silvestre partir, nada é igual. Nenhum de nós é igual, o tempo já não igual.
O tempo não ficou parado no tempo …
Foi, contudo, muito bom ter ido a Alcoitão. Senti paz. Paz pelo tempo que o Silvestre lá esteve, paz por tudo o que foi feito, paz porque se o tempo que ele teve para estar connosco foi este, se este percurso era o dele, o meu e o vosso, então penso que todos nós cumprimos a nossa parte nesta missão.

Mission accomplished. Pelo menos espero eu que não tenha ficado nada por fazer …


Por:
Mãe do Silvestre
gracalacerda@portugalmail.pt

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Estas sempre nos nossos corações

2009-11-10


Queridos amigos do Silvestre


Se o nosso Gatinho fosse vivo, faria hoje 23 anos. Ele nasceu de cesariana por volta das 8 da manha, e lembro-me de quando me colocaram no colo, já na sala de recobro, ele olhava para mim com um ligeiro franzir do sobrolho, muito sério, como que se me estivesse a avaliar … e lembro-me de ter contado os dedinhos dos pés e das mãos para me certificar se estavam todos e depois de ter colocado a mão dentro da fralda para confirmar se era realmente um menino … e olhava para mim com um olhar de velho, um olhar que parecia trazer uma carga de sabedoria, de vir de um ponto que eu não conhecia, que eu não poderia conhecer …
O Silvestre era mesmo a personificação do nome dele: gostava muito de estar sozinho, não se importava com isso, e ao mesmo tempo, ele incluía-se no conjunto, tal como uma flor silvestre, mesmo que estando isolada, está sempre no conjunto de verde que a rodeia. Ele sempre quis pertencer ao grupo, ao mesmo tempo manter o seu ponto de vista, a sua forma de olhar para as pessoas, para a vida. Opinado como ele era ….
Foi o Silvestre que me ensinou a frase: olhar para as pessoas com os olhos do coração. Olhar para as pessoas por dentro e não por fora. Ele conseguiu definir em palavras aquilo que sempre lhe tentei ensinar: na sociedade de hoje nem sempre olhamos com os olhos do coração: olhamos com os olhos da estética, dos bens materiais, mas esquecemos de olhar com os olhos do coração, esquecemos de olhar para dentro, por dentro, esquecemos de tratar os outros como gostaríamos de nós sermos tratados…
Tenho muitas saudades do Silvestre: raro é o dia em que não encontro uma coisa que ele escreveu, um postal do Dia da Mãe, ou quando em casa me dizem que o jantar cheira bem, lembrar-me que ele dizia: “cheira bem, cheira a cozinhados da mãe” … Tive que aprender a ser outro tipo de mãe, porque a condição de mãe mantém-se, o vinculo mantém-se mas os sonhos e os planos que eu esperava que ele iria começar a formular, que um dia iria começar a namorar, que eu iria ser sogra, iria ser avó … tenho que aceitar que o tempo que me foi dado para estar com ele, chegou ao fim naquele dia, naquela noite, e agora o tempo é outro. E por vezes não sei como viver este tempo ….
Como é que se vive com a morte dum filho? Não sei … tento estar ocupado o mais tempo possível, continuo envolvida em muito trabalho voluntário, estive envolvida nas três campanhas eleitorais deste ano, inclusivamente tendo feito parte duma lista para as eleições autárquicas, até porque esta participação foi tema da nossa ultima conversa em Alcoitão no dia 25 de Janeiro, na minha ultima visita, em que ele fez sinal com a cabeça para eu aceitar … não podia não aceitar o convite. Ao mesmo tempo sinto, que apesar de tudo, fui privilegiada: privilegiada por ter sido mãe dum miúdo que aprendeu a sorrir com um sorriso tão bonito, privilegiada por me ter sido permitido estar com ele até ao último momento, o ultimo respirar. Refilei com Deus, discuti com Deus, dizia-lhe que, se não ia curar o Silvestre, então que o levasse porque era impossível aquele sofrimento … mas era-me impossível sair daquele quarto no SO de S. Francisco Xavier. Ninguém mais podia estar ali: eu estava lá quando ele nasceu – tinha que lá estar quando ele fosse embora.
O Silvestre foi muito abençoado, porque ele soube o que era ter amigos, ter amor, estar rodeado de carinho. E quando o Silvestre morreu, morreu um homem muito rico: rico pelos amigos, pelo carinho, pelo apoio que ele teve, mas rico também porque ele era especial, e tornou-se ainda mais especial durante “o tempo dos hospitais” … e ensinou-me a importância dum sorriso, daquele sorriso iluminado que ele tinha descoberto dentro dele …
Sonhei com o Silvestre uma noite … estava em pé, gordinho como ele era, calções bege e T-shirt preta e trazia um porta-fatos na mão, via-se a pontinha dum fato azul e ele dizia-me: “Mãe, podes dar esta roupa, porque já não vou precisar mais dela …” o mesmo fato que a irmã não me deixa dar a ninguém … estava tão feliz para vê-lo bem, que queria abraça-lo, mas naquele momento acordei e fiquei triste por o sonho ter ficado interrompido …
Amo-vos a cada um, pelo bocadinho de Silvestre que guardam nos vossos corações, por terem sido soldadinhos daquela guerra. Uma guerra que seria muito difícil, senão impossível, de ganhar: a recuperação do Silvestre estava muito comprometida, ele tinha lesões oculares, as infecções tinham deixado sequelas, ainda em S. José foi-me dito que a definição clínica do Silvestre era de “um doente tetraplégico em alto risco de vida” … O Silvestre morreu em resultado duma infecção meningo-encefalica: pelo menos foi o que me disseram naquela noite, na noite em que ele partiu para conduzir a sua “Fera” por estradas onde não há postes de electricidade que possam cair num embate, onde as estradas são bem-desenhadas, sem curvas perigosas nem óleo na estrada …

Mãe do Silvestre
gracalacerda@portugalmail.pt

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Agradecimento

Há pessoas quando morrem, deixam heranças.
Há outras que deixam legados.
E o Silvestre deixou-nos um legado.
Disse-me uma das colegas dele, da Santa Casa, que o Silvestre tinha que ser uma pessoa muito especial, por se ter reunido à volta dele uma onda de solidariedade tão grande, que chegou tão longe, que foi tão abrangente e foi o que nos fortaleceu, a mim e à irmã do Silvestre, e que nos ajudou a ajudar o Silvestre a criar um caminho novo. Mas por vezes era ele que nos dava esperança a nós, que nos ajudava a ajudar ele a acreditar que a recuperação era possível.
O Silvestre era um jovem muito especial. Uma vizinha, que veio a tornar-se uma amiga, chamava-lhe Príncipe, porque um dia o Silvestre, encontrando-a à saída do Pingo Doce, super-carregada, e super-gravida, levou-lhe as compras a casa, subindo até ao terceiro andar sem elevador. Quando ela veio a saber que ele era meu filho, disse-me: “Nunca imaginei que um rapaz como ele levasse as compras a casa duma preta grávida. Ele é um Príncipe.” Só soube que isto tinha acontecido, já o bebé tinha quase um ano de idade.
Miguel de Cervantes disse que a maior loucura do homem é entrar em desespero. O Silvestre nunca entrou em desespero. Deu-nos uma lição de coragem, perseverança, paciência e aceitação. Aprendeu a sorrir com o sorriso mais iluminado do mundo, que nos iluminava também a nós. E é isso é que nós temos que guardar dele, um homem que não desistiu, mesmo na face duma transformação tão profundo como a que o atingiu.

Guardem dele as recordações que têm dele: reguila, refilão, bem-disposto com um coração grande, sempre disponível. E não chorem por ele, porque não era isso que ele quereria: ele gostaria de ser lembrado pelas coisas boas, e passar por estes seis meses, apesar de tudo, foi também uma coisa boa, porque os amigos gostavam dele, porque os amigos cuidaram dele, porque ele trouxe ao de cima tudo do melhor que os amigos tinham para dar. E o legado que ele nos deixa, para além da sua coragem e sorrisos iluminados, é que a corrente de solidariedade que se gerou à sua volta, continue a tocar outras vidas que possam precisar desse carinho e desse apoio.

Aos amigos e colegas do Silvestre, a Santa Casa de Lisboa,
das escolas e empresas por onde o Silvestre passou,
aos escuteiros, os amigos todos,
Que estiveram ao nosso lado desde o primeiro minuto,
Com apoio, carinho, orações,
Dando do seu tempo e disponibilidade
Que encheram o meu telemóvel com mensagens e telefonemas,
Que não fizeram mais porque mais não havia para fazer

Aos meus amigos e colegas
Que têm sido a minha base de sustentação

Aos médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar, amigos que ele fez
nos hospitais que fizeram parte do percurso do Silvestre,
Que certamente deram o seu melhor para ajudar o nosso Gatinho
A criar um percurso novo

Aos amigos que criaram o blogue,
Que o mantiveram actualizado

Aos amigos que contribuíram para o fundo do Silvestre

À minha família

As tias-madrinhas do Silvestre, e elas sabem quem são

À minha adorada filha, Ana Catarina,
Que tão generosamente dividiu o tempo da mãe com o irmão,
Sabendo que ficaria com o tempo mais pequeno

Por fim, por que foram os primeiros,
a Associação dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém,
Direcção e Operacionais,
Os bombeiros que prestaram os Primeiros Socorros ao meu filho,
Que têm cuidado de mim ao longo deste tempo,
Ajudando-me a acreditar que tudo era possível

Bem haja. Ficarei convosco no meu coração para sempre

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Silvestre

Bem Haja


Silvestre Simões

10 Novembro de 1986

28 de Janeiro de 2009


Morrer não é desaparecer:
É estar ausente e sempre presente
Junto daqueles que te amam
E que nunca te vão esquecer
(José Ramos / Amigo do Silvestre)






Eu poderia suportar,
embora não sem dor,
Que tivessem morrido todos os meus amores,
Mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem
O quanto são meus amigos
E o quanto minha vida depende
De suas existências …
A alguns deles não procuro,
basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja
a seguir em frente pela Vida
(Vinicius de Moraes)



“Friends will be friends,
…… Right till the end”
(Freddy Mercury / Queen)



Em Vida, Irmão, em Vida

Se queres feliz fazer
Alguém a quem queiras muito...
Diz-lhe, hoje. o teu querer
Fá-lo em Vida, Irmão, em Vida... .

Se desejas dar uma flor,
Não esperes que ela murche
Manda-lha, hoje com amor...
Fá-lo em Vida, irmão, em vida..,

Se desejas dizer" GOSTO DE TI"
Á gente da tua casa, que te é querida,
Ao amigo perto ou longe,
Fá-lo em Vida, Irmão, em Vida...

Não esperes pela sepultura
Das pessoas para as amar
E dar-lhes e sentir a tua ternura
Fá-lo em Vida, Irmão, em vida...

Ser venturoso mereces
Se aprenderes a fazer felizes
A todos os que conheces
Em Vida, Irmão, em vida...

Nunca visites panteões
Nem enchas tumbas de flores
Enche de amor corações
Em Vida, Irmão , em Vida....


















UTOPIA DESTROÇADA



Teu sorriso de criança
Teu olhar ambicioso.
Deixaste a herança
Levaste na esperança
Um riso delicioso.
Um sonho tão real
Que a todos afectou
Cada um por igual
Neste desfecho fatal
Como broto que secou.
Para o além caminhas-te
Tuas lembranças ficaram
No teu leito levaste
As que não se idealizaram.
De ti quem não gostava
Pela tua imaginação
O teu som da palavra
Respostas á provocação.
Dei-te a minha coragem
De nada te valeu
Fica-nos a imagem
De uma folhagem
Que jamais cresceu.
Em mim algo fica
Como em todos os demais
Mas nada modifica
Nem tão pouco nos explica
O caminho para onde vais.
Com saudades te lembramos
E a saudade nos perturba
As lágrimas que choramos
Na certeza que te amamos
Que tua alma durma.
//
Autoria: Amigo Tony pereira/31/1/2009/BORBA
Saudades: Médicos, Enfermeiros, Auxiliares, e Amigos de C.M.R
De Alcoitão
Dedicado ao amigo Silvestre.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Funeral





O funeral do Silvestre será na Terça-Feira, dia 3 de Fevereiro, na IGREJA DE BELAS, pelas 10h30 da manhã – Missa de Corpo Presente

O funeral segue depois para o Cemitério do Cacém.

Bem haja


Bem haja.




Aos amigos e colegas do Silvestre
Que estiveram ao nosso lado desde o primeiro minuto,
Com apoio, carinho, orações,
Dando do seu tempo e disponibilidade
Que encheram o meu telemóvel com mensagens e telefonemas,
Que não fizeram mais porque mais não havia para fazer

Aos meus amigos e colegas
Que têm sido a minha base de sustentação

Aos médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar
De todos os hospitais que fizeram parte do percurso do Silvestre
Que certamente deram o seu melhor para ajudar o nosso Gatinho
A criar um percurso novo

Aos amigos que criaram o blogue,
Que o mantiveram actualizado

Aos amigos que contribuíram para o fundo do Silvestre

Por fim, por que foram os primeiros,
Os Bombeiros de Agualva-Cacém,
Os que prestaram os Primeiros Socorros ao meu filho,
Que têm cuidado de mim ao longo deste tempo,
Ajudando-me a acreditar que tudo era possível
Bem haja. Ficarei convosco no meu coração para sempre

Mensagem da mãe do Silvestre

Bom dia amigos do Silvestre,

Pensei longamente sobre este assunto e coloco agora nas vossas mãos. O Silvestre tem direito a flores mas já tem as flores dele. Prefiro que depositem a verba correspondente ao que iriam gastar na conta de solidariedade dele. Posteriormente o saldo será transferido para outra conta solidariedade duma moça paraplégica que tem hipótese de ir a Cuba à clinica Ciren. Ajudar nesta recuperação é a melhor forma de homenagear o nosso menino, devolvendo-lhe qualidade de vida através da Isabela. Eu sei que compreendem o que isto significa para mim, afinal é também uma vida e no cômputo superior da vida, somos todos intervenientes e parceiros na vida da pessoa ao nosso lado. E tenho a certeza que o meu filho daria o maior apoio a este projecto e seria o primeiro subscritor deste projecto, de uma forma ou outra, já o é. Amo-vos a todos por terem feito parte da vida do meu filho.

Graça L.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009






NOTA DE FALECIMENTO


É com grande pesar, que informamos o falecimento do Silvestre Simões no dia 28-01-09.


Assim que seja possível daremos mais informações.


Lisboa 29 de Janeiro de 2009.










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